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Dia Nacional da Mata Atlântica: Como conciliar o desenvolvimento econômico e a proteção do bioma?

27/05/2024

 




Celebrado no dia 27 de maio, o Dia Nacional da Mata Atlântica tem o objetivo de conscientizar sobre a importância de sua conservação, recuperação e uso sustentável. Presente em 17 estados brasileiros, o bioma sofre forte pressão devido às atividades econômicas, ao agronegócio e à expansão urbana.

 

“O bioma é um conjunto de diferentes tipologias florestais espalhadas por um território enorme. Neste sentido, o planejamento urbano é fundamental para que a gente possa conseguir aliar o desenvolvimento econômico, a expansão das cidades e a preservação. Tem muito espaço já aberto e sem floresta que pode ser ocupado pela população e, ao mesmo tempo, tem muito espaço que atualmente é ocupado pela população e que talvez deva voltar a ser floresta, seja ela nativa ou plantada”, explica Erich Schaitza, Engenheiro Florestal e pesquisador da Embrapa Florestas.

 

A Importância da Mata Atlântica

 

Originalmente, a Mata Atlântica cobria uma vasta área da costa leste do Brasil, além de partes do Paraguai e da Argentina. Hoje, nela vivem 70% da população brasileira, além de importante porção da biodiversidade mundial. Sendo assim, grande parte da discussão sobre sua conservação gira em torno do uso do solo.

 

“Quando comparamos a floresta com o uso agrícola ou a expansão urbana, ela atua como uma esponja que absorve água. Ela dissipa a energia da chuva, aumenta a infiltração de água e diminui o escoamento superficial. Neste aspecto, a gente deve olhar para lugares onde deveríamos ter mais florestas, protegendo todos de enchentes e catástrofes”, ressalta Schaitza.

 

Unidades de Conservação

 

Espaços estes que muitas vezes são as Unidades de Conservação (UCs), essenciais também para preservar fragmentos de florestas nativas. “Elas são grandes depósitos de biodiversidade e nos mostram como é o ambiente natural, mantendo a biodiversidade em nosso espaço”, afirmou Schaitza.

 

Ele enfatiza que estes ambientes e fragmentos florestais devem ser protegidos e preservados, permitindo a manutenção e regeneração da Mata Atlântica de maneira positiva e integrada. “As Unidades de Conservação só conseguem ter o seu efeito ou sua potência expressada se estão inseridas em um mosaico que não as isole dentro de um contexto. Elas precisam estar conectadas por corredores, manchas de flora e fauna criando uma rede de briodiversidade. No estado do Paraná, nós temos algumas áreas fantásticas neste sentido, por exemplo o Parque Nacional do Iguaçu que preserva uma área enorme ligada a uma poligonal de uso de Itaipu e é uma rede de reservas legais e fragmentos de conservação dentro das propriedades, o que faz com que a gente tenha fauna e flora e as próprias Cataratas conservadas”, disse.

 

Aliado a este trabalho é importante a realização de pesquisas, capazes que permitir o desenvolvimento sustentável. “A pesquisa é fundamental para o desenvolvimento sustentável. Há 100 anos, não entendíamos como diferentes vegetações afetavam regimes de chuva e fluxo de água. Hoje, temos modelagens que nos permitem determinar onde é ideal ter floresta, agricultura ou sistemas agrossilvipastoris, produzindo de forma mais eficiente”, explicou Schaitza.

 

Benefícios do Planejamento Sustentável

 

O planejamento de uso do solo é outro trabalho de pesquisa que pode trazer benefícios e maior segurança para a sociedade, evitando situações como as fortes chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul. “Seria extremamente inovador para nós se as autoridades construíssem visões de desenvolvimento do Estado de forma planejada. Além disso, que nós parássemos de viver em um ambiente onde nós temos claramente dois grupos, um chamado de ‘bicho grilo’, que diz que tudo é bom e tem que ser preservado, e outro ‘utilitário’, que defende apenas o lado financeiro”, afirmou.

 

Ele cita Curitiba como exemplo, onde parques alagáveis absorvem grandes volumes de chuva, evitando enchentes em áreas habitadas. “Onde nós não temos um parque protetor, há enchentes e problemas relacionados ao desalojamento de pessoas e tudo mais. Por isso, o crescimento das cidades é ótimo, mas a gente pode crescer protegendo rios com as florestas e praticando o uso da terra de maneira sustentável, minimizando o escorrimento superficial e potencializando a conservação de solos. O que vale também para a agricultura, afinal, obviamente a gente precisa dela, mas não podemos praticá-la sem considerar a conservação do solo e água”, explicou.

 

A Conservação da Mata Atlântica no Paraná

 

No Paraná, cada propriedade deve preservar pelo menos 20% de sua vegetação nativa como Reserva Legal e Área de Proteção Permanente. “Hoje, temos 29% de cobertura florestal nativa, segundo o Inventário Florestal Nacional, e 7% de florestas plantadas, totalizando aproximadamente 35% de cobertura florestal”, disse Schaitza.

 

No entanto, ele alerta para a distribuição desigual da cobertura florestal no estado. Enquanto o litoral e a Serra do Mar têm alta cobertura, regiões como o Norte Velho e Oeste do estado têm menos florestas. “É necessário considerar estratégias regionais e a economia local para promover florestas em áreas menos produtivas não mecanizáveis e compensar ambientalmente o desenvolvimento onde há forte e importante produção agrícola, conforme previsto em lei”, explicou.

 



Sobre Erich Schaitza

 

Pesquisador da Embrapa desde 1989, Erich Schaitza é especialista em gestão de informações gerenciais e conservação da biodiversidade, com mestrado em tecnologia de sistemas de energia renovável. Atuou no Governo do Paraná, liderou o Projeto Paraná Biodiversidade, foi Coordenador da Embrapa África, e, de janeiro de 2019 a abril de 2024, foi chefe geral da Embrapa Florestas. Schaitza destaca sua experiência em 25 estados brasileiros e 25 países africanos, permitindo-lhe traçar paralelos entre os processos de desenvolvimento agrícola no Brasil e na África.

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